5 de outubro de 2010

A Catilinária no Le Monde Diplomatic

A desorientação causada pela ignorância de si mesmo e da realidade da vida é o cativeiro da humanidade. No texto, (Pg. 3) “Plataforma pela reforma do sistema político”, o Sr. Sílvio Caccia Bava faz coro com excluídos (ABONG – afro-descendentes, mulheres, homossexuais, indígenas, jovens, idosos, sequelados, entre outros). E todos lamentam, “a questão da reforma política não avança”; e rezam: De profvndis, clamavi ad te, Domine; Domine, avdiens vocem meam; e choram: (1º) precisamos ampliar a democracia – reformar o processo de decisão –torná-lo capaz de incluir e processar projetos de transformação social que os excluídos trazem para o debate público – (2º) aumentar as oportunidades de participação política – (3º) ir além do estado formal, e alterar a forma como as pessoas se relacionam. (!?)

Em notação de xadrez (!?) significa contradição. A matéria cita fatos, mas o pressuposto é falácia. Isso invalida a inferência ética. A tese jacente é: sem “tunar” o modelo político atual nada muda; o pressuposto é: nada pode ser feito porque o sistema está errado.

As falácias

Ao afirmar, que é preciso ampliar a participação política dos excluídos no espaço de poder, ele está praticamente negando o poder de toda a população numa democracia, o governo do povo, de onde emana todo o poder. É uma falácia porque a soma dos excluídos que foram citados é a grande maioria do povo. Desprezando-se os imigrantes asiáticos, só foram esquecidos no texto, os mestiços e os caucasianos insatisfeitos. Além desses, algumas famílias abastadas e algumas autoridades que também querem amainar o problema do País. Segundo esse raciocínio, todo o poder político está concentrado nas mãos de apenas alguns poucos sociopatas e psicopatas (psicopatas sem consciência somam 4% da população). Se isso fosse verdade, nós estaríamos tratando com uma tremenda hipnose de massa; seria semelhante ao caso do gavião que foi criado no galinheiro e não voa porque acredita que é uma galinha. Quanto a incluir e processar projetos de transformação social é outra falácia, o que mais tem é projeto tramitando, e todo projeto implica transformação social.

O diagnóstico é problema mental

Como pode alguém reclamar das instituições no Brasil? – comparativamente, muito pouco se poderá fazer para melhorar as instituições – quantos partidos existem no País? Têm tanto partido que atrapalha. Tem tanto partido que falta ideologia. Assim, para que os excluídos façam parte do poder, pouco é preciso mudar nas instituições, quem tem que melhorar agora é justamente o comportamento cívico do povo excluído, que precisa aprender a usar corretamente as instituições.

Se os excluídos se mobilizassem de forma organizada para fazer o que deveria ser feito, tudo se resolveria. Ao invés disso, eles ficam chorando, esperando que outros façam. Essa reação é cultural. É exatamente isso que recomenda a herança da cultura patrimonialista Ibérica, onde tudo quem decide é o rei. O povo apenas pede, implora, chora.

A psicologia diz que o neurótico, o psicótico e o esquizofrênico combatem a própria felicidade. Por isso, tudo tem defeito; nada é capaz de faze-los felizes. Para eles a felicidade está sempre muito distante, está sempre naquilo que não foi feito, naquilo que não existe e naquilo que ele não possui. É assim, sempre se desviando da verdade, se recusa a raciocinar, e a solução é para sempre postergada. Nem mesmo a queixa muda, ela é sempre a mesma coisa, contra o continuísmo.

A parte interessante do texto

A coisa mais interessante, que está sendo pleiteada, está na seguinte frase: “ir além do estado formal e alterar a forma como as pessoas se relacionam”. Se os representantes dos excluídos, se os dirigentes das ONGs estudassem história, eles saberiam o que ocorreu na Espanha em 1854-56, onde o exército abandonou as cortes, as cortes os chefes, os chefes a classe média, e essa o povo. “A burguesia liberal nos países atrasados não é mais uma classe revolucionária. Ela prefere submeter-se a uma ditadura militar, mais do que correr risco de desencadear um movimento popular que poderia ultrapassá-la”.

O que eu quero dizer, citando este trecho de um livro, que fala de dialética marxista e da teoria da revolução permanente é o seguinte: que não é a burguesia que vai se interessar em resolver os problemas de quem ela explora. E não adianta olhar com cara de pidão, implorando para eles resolvam os problemas dos excluídos. Na democracia, cada grupo organizado cuida de si. Não adianta chorar, o rei não existe mais. Todos abandonaram os excluídos, e pelo que parece, inclusive eles mesmos.

Para garantir o poder, a mais valia e o status quo, nenhuma classe social tem ética nem honra nem cumpre o que promete. Para resolver os seus problemas os excluídos devem se articular e se organizar. Devem cooperar uns com os outros, da mesma forma que o fazem os grupos dominantes. A democracia é uma competição entre grupos. A burguesia tem a sua maçonaria, ilegal e criminosamente infiltrada em todas as instituições públicas praticando o favorecimento mútuo, tráfico de influência e crimes de assédio contra quem se dedica ao problema dos excluídos. Tudo agora é uma questão de esperteza. É preciso ampliar o conhecimento, aumentar a inteligência, modificar a forma de relacionamento entre as pessoas, racionalizar o uso dos recursos e coisas assim.

O próprio povo excluído, todas aquelas classes que antes era escravizadas ou exploradas ou marginalizadas, agora, quando as instituições democráticas estão todas ao alcance de todos, eles não acreditam que realmente são livres, nem que somam a grande maioria dos eleitores. Eles não percebem, portanto, que são eles o grupo mais poderoso do País.

Mas se eles não fazem o que precisam fazer, não é porque são doentes mentais, porque o povo todo não pode ser neurótico. Portanto, as deficiências perduram pela falta de ação, que é causada pela ignorância dos excluídos, que os impede de saber, como resolver os problemas por desinformação. Por outro lado, há nesses grupos a mais absoluta falta de liderança. Os que se aproveitam da ignorância dos excluídos, também não sabem o que fazer. Não sabem nem roubar, quando roubam eles ficam com o rabo preso e só provocam riso nas classes dominantes, porque a maior preocupação deles é imitar, as roupas e o comportamento dos líderes das classes ricas. Mas são muito ignorantes, e tudo que dizem e fazem, é demagogia. Enquanto isso o povo excluído, cansado e seguidamente enganado só pode ficar mesmo tiririca da vida.

Uma visão de bunda do Brasil

Na carta um (pg. 2), da “Le Monde Diplomatic”, um gênio advogado “concorda” feliz em comprimir os índices de homicídio no Brasil... Logo adiante, na França: só o infrator é responsável isolado; a “Bolha da segurança” ignora relações em que a delinqüência tem sentido. Quem ignora é ignorante.

Na carta cult: “Em busca de leitores”, elogia redação e cobra o conteúdo – a visão do “boca de macaco” reflete realidade sem: desanimar mercado, criticar modelo, observar oportunidades, citar políticas, analisar mesmice elitista da grana pública, denunciar falsa tiragem, e principalmente, ensinar a arte de escrever de modo a furar bloqueio do grande “leitorado”. O que mais falta faltar?

Nenhum comentário: